5 de março de 2008

Ibira na India - Parte 6


Na segunda feira, dia 11 de fevereiro, fui embora de Ashta. Confesso que nao foi muito facil ir embora depois de duas semanas com o Sankalp e seus amigos. O problema maior eh que eu sabia que nao teria mais as experiencias que tive com eles, nem na India, nem no Brasil. Enquanto no Brasil os jovens da minha idade querem sair pra tomar cerveja, os da India saem pra tomar cha. Enquanto os jovens do Brasil nao param de falar de mulher (entenda-se bunda, peito e companhia), os da India falam de qualquer outra coisa. Nem o criquete, que eh absurdamente paixao nacional, nao eh tao assim assunto entre eles, como eh o futebol no Brasil. Acho que eu estava precisando conviver mais com pessoas um pouco mais inocentes… e os jovens indianos sao o que os brasileiros nao sao nesse sentido…

Bom, deixa eu contar um detalhe da minha partida de Ashta para Pune. Seriam sete horas de onibus, entao meus amigos me disseram que eu iria de Volvo, que o Volvo eh o melhor, que nao tem onibus na India melhor que os tal de Volvo (e eles que falam Wolwo e eu nao entendia que raios de Wolwo era esse, ate lembrar-me que o ‘v’ deles eh meio ‘w’). Que bom, pensei, vou de Volvo e nao eh caro (e dessa vez nao era mesmo, ninguem me fez de troxa). Porem, quando chegamos na rodoviaria e eu vi o tal do Volvo, me segurei pra nao dar risada na cara dos meus amigos. Confesso que houve momentos, como esse, que preferi nao falar nada do tipo que no Brasil eh melhor so pra nao tirar o barato dos meninos, que falavam com tanto gosto. O onibus de fato era confortavel e melhor do que todos na India, mas nada se compara aos que temos no Brasil, aos nossos Marcopolos e cia. Tudo depende dos parametros; comparando com os onibus comuns indianos, realmente esse Wolwo era um palacio.

Bom, e la ia eu pra mais uma jornada na Incredible !ndia, encontrar com mais um amigo online que nunca tinha encontrado ao vivo na vida. Pelo menos esse eu tinha visto foto. Pelo combinado, ele estaria me esperando na rodoviaria de Pune. Porem, quando la cheguei, onde estava o danado do Pradeep? A rodoviaria lotada, todos me olhando e eu me enfiando num canto esperando por meu amigo. Finalmente ele apareceu – disse que estava no transito, por causa das obras. Fui descobrir que Pune estava toda em obras de alargamento de avenidas, corredores de onibus, pontes, predios, ruas, casas… ate que li a placa dizendo: “Welcome to Pune, the fastest growing city in the world”. E de fato, dada a quantidade imensa de predios residenciais novos sendo construidos por todos os lados, Pune promete. So o que que nao sei.

Pradeep me levou pra casa dele, um apartamento novo, num bairro novo, com predios novos por todos os lados. E muita poeira de muitas novas construcoes acontecendo por ali. Sugeriu almocarmos e fomos de moto. Ainda nao tinha experimentado moto na India, dentre os tantos meios de transporte disponiveis nesse pais. A sensacao foi bem interessante, mas talvez seria mais nao fosse a tentativa do governo de Pune de disciplinar o transito, impondo (com uso de guardas e apitos) a funcionalidade dos semaforos. Esse mesmo amigo uma vez me disse, enquanto eu ainda estava no Brasil, que ele estava aprendendo muito com Gandhi e que uma das coisas que ele tinha aplicado na vida pratica dele era parar nos semaforos enquanto ninguem parava. Eh o que eu digo, a questao sao os parametros.

Naquela noite ele resolveu me levar num templo numa vila proxima. A vila de nada tinha de vila, porque a cidade ja tinha chegado e a engolido. Mas o que foi mais interessante eh que estava acontecendo algo muito especial no templo que nem o Pradeep sabia. O templo era para o guru do Shivaji – que foi o maraja mais importante da historia do Maharashtra –, que acabava de completar 400 anos. Quando entramos no templo havia velas acesas por todos os lados e nos tinhamos que colocar as nossas tambem, o que fizemos. Demos uma volta no templo conforme manda a tradicao e, quando estavamos indo embora, cade a chave da moto?? A chave havia desaparecido e nao sabiamos o que fazer. Procuramos, procuramos e procuramos e nada. Uma hora depois, literalmente, houve um show de fogos e descobrimos que comecaria um kirtan especial no templo para a comunidade. Ja era mais de 21:00hs. Um kirtan eh um momento em que o povo se reune num patio para ouvir geralmente um sabio falar e cantar as cancoes devocionais. Para isso sempre ha nesse momento musicos com os instrumentos tradicionais indianos. Quando descobrimos que o kirtan ia comecar nos aproximamos para ver; mas, logico, ao me verem, nos colocaram bem em frente dos musicos – na verdade no meio deles. Nao entendi nada do que falaram, foi tudo em Marathi, mas valeu pela experiencia de ver algo extremamente indiano que ocidental raramente pode ver, principalmente pela musica. No final, quando iamos embora (de riquixa, ja que a chave tinha mesmo sumido), um sadu veio pessoalmente agradecer a minha presenca la.

No dia seguinte, depois de pegar a outra chave e resgatar a moto, fomos ao forte de Sinhagad, perto de Pune, que foi palco de uma das batalhas de Shivaji no seculo XVII, se nao me engano (e o primeiro forte foi construido ali no seculo XIV). Mas se nao fosse a vista, que eh maravilhosa, nao teria valido a pena ir ate la. O forte esta extremamente mal conservado, inclusive por conta das antenas de TV e radio que foram instaladas em cima do morro, no meio do forte. Uma pena, mas eh algo muito comum de se ver por aqui, como ja disse ao menos uma vez.

Naquela noite fomos jantar na casa de um amigo do Pradeep. Quando era meia noite comecou um lindo show de fogos de artificio perto dali, sem motivo aparente nenhum. Desde que estava em Pune esse ja era o terceiro show pirotecnico que via em menos de dois dias. E eis que o amigo do Pradeep comenta: “Isso eh sinal de duas coisas: a primeira eh o crescimento economico – as pessoas tao comprando coisas inutilmente, tipo fogos de artificio; a segunda eh a democracia indiana – todo mundo faz o que quer e quando quer, inclusive soltar fogos a meia noite”. Apenas dei risada.

No dia seguinte logo cedo eu e o Pradeep partimos para uma semana de viagem por lugares sagrados e historicos do Maharashtra, mas vou deixar para o proximo relato.

Om Shanti Om


Fotos: Vista e entrada do Sinhagad Fort

2 comentários:

  1. ÔÔÔ Ibirá...

    Que maravilha os seus relatos, mostram realmente que o contato com a verdadeira India se faz mesmo é nas pequenas vilas, e não nos grandes centros.

    Eu estou amando seus relatos, são um oásis no meio de tanta informação negativa que nos chegam aos ouvidos no mundo de hoje.

    A forma como vc vê e vivencia a India, é um reflexo de seu verdadeiro ser.

    Um abraço fraterno, e continue com suas maravilhosas aventuras, já estou aguardando o próximo capítulo.

    Que os Avatares da India, te abençôem e te acompanhem, atarido para vc pesseos e energias altamente positivas.

    Om Shanti Namaskar

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  2. Ibirá, você esta fazendo o maior sucesso com seus relatos...rs. Realmente você escreve muito bem. Bom, estamos aqui acompanhando suas aventuras (eu particularmente não me canso de perguntar quando vc ira ao Taj Mahal...rs).
    Ficou sabendo que a filha da Denise nasceu, né? Ela esteve aqui com a Dê e é uma graça, muito sossegada...enfim...só para você ficar sabendo.
    Bjos
    Juci

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