19 de fevereiro de 2008

Ibira na India - Parte 3


Quando acordei na minha primeira manha de vida realmente indiana tive novas experiencias muito interessantes e que me comprometi a experimentar.

A comecar, logo que acordamos os macaquinhos (sao tipo o Rhesus, pra quem conhece) estavam nas arvores atras da casa. Meu amigo disse pra irmos falar bom dia pra eles e alimenta-los com umas frutinhas secas. Assim fizemos e logo eles foram embora. Depois soube que todas as manhas eles vem fazer a visita. Enfim, enquanto la estavamos alimentando os macaquinhos, a mae do meu amigo nos chamou pra tomarmos o "cha". Pensei: "Oba, que legal, eles tomam cha no cafe da manha". Porem, quando vi a mae do meu amigo preparando o cha vi que as coisas eram meio diferentes. O cha em si sao umas folhas de cha preto colocadas no leite, junto de gengibre e cardamomo. Nada de cha com agua como eu pensava ate entao. Mas beleza, achei o cha uma delicia, repeti e ainda comi as bolachinhas que tipicamente acompanham os chas na India - e tanto melhor se elas forem mergulhadas no cha.

Em seguida fomos a casa da vizinha e repeti o cha e as bolachinhas uma vez mais. Meu cafe da manha reforcado estava bom, pensava eu. Mas eis que minha amiga brasileira que estava conosco disse: "Ibira, isso ainda nao eh o cafe da manha, voce sabe, ne?". Nao era o cafe da manha?? Virge maria.... e de fato, em seguida voltamos pra casa e la estava o cafe da manha do dia: Wara Pao. Wara eh tipo um bolinho de batata condimentado, do tamanho de uma coxinha, que eh comido com o Pao, um pao (com o acento til, por favor, que nao tem nesse teclado) redondo. E nao pensem que o negocio eh pequeno nao. Ainda repeti por insistencia da mae do meu amigo. Nossa senhora, se eu soubesse que o cha fosse so entrada nao teria nem comido as bolachinhas. Mas valeu a experiencia, como sempre.

Pior voces vao achar a experiencia seguinte a que me submeti e segui fazendo assim nos dias todos subsequentes. Devo dizer que ainda nao tinha feito o "numero dois" na India ate entao. Estava apertado, realmente, e aquela seria a hora. Meu amigo ja tinha me apresentado o banheiro (um buraco no chao com base de porcelana), o baldinho, a agua e o sabonete. Lembrei que eu tinha o papel higienico na mala. Mas de repente pensei que eu seria hipocrita demais em usar o papel higienico se eu mesmo estava pedindo ao meu amigo que me oferecesse a verdadeira vida indiana, o real cotidiano deles. Entao por que nao baldinho com agua apos fazer as coisas no buraco?? Pois foi o que fiz e achei a coisa mais simples e limpa. A gente poe a mao naturalmente em coisa muito suja por ai, porque nao em nos mesmos e depois simplesmente lavar bem lavado na agua com sabao? Essa minha experiencia indiana que eu jamais esperava vivenciar na vida foi mais um sucesso.

Bom, imediatamente em seguida a isso veio a outra importante experiencia do banho indiano. Pra quem nao sabe nao ha chuveiro nas casas da India, apenas torneira com agua, um balde grande e um baldinho menorzinho. Por sorte na casa do meu amigo tinha agua quente a gas tambem. Ah, e so pra acrescentar e voces entenderem, o lugar do "toilete", ou seja, o buraco no chao, eh separado do lugar do banho; sao portas separadas. Bom, e la fui eu tomar banho de baldinho. A experiencia foi de novo bem legal. Na verdade nada demais, mas nao deixou de ser uma experiencia nova pra um tipico paulistano. O que achei mais legal eh saber como da pra tomar um bom banho com pouca agua. Basta molhar o corpo primeiro, depois ensaboar-se e depois enxaguar-se; nem um balde inteiro eh necessario.

Acho que nesse momento encerram-se as minhas "primeiras experiencias" mais importantes, porque praticamente tudo o que aqui coloquei como tendo feito pela primeira vez segui fazendo nos dias subsequentes e tudo ficou normal pra mim. So pra repetir tudo: comer sentado no chao e com as maos, dormir em colchonete, fazer coco no buraco e limpar com a mao (ah sim, esqueci de dizer que fiz isso com a mao esquerda, como diz a regra), tomar banho de baldinho e tomar cha indiano de entrada ao acordar, o que nao eh cafe da manha. E sim, comida apimentada e condimentada sempre.

Bom, nesse meu primeiro dia realmente indiano o meu amigo tambem nos levou no templo da vila. O templo eh dedicado ao Lorde Parshurama (que deu nome a vila, Parshuram), que eh uma das encarnacoes de Vishnu. A lenda diz que Parshurama vivia ali e ele que fundou o templo, mas ninguem sabe de quando eh exatamente o templo. Foi o primeiro templo que visitei na India. Ele eh pequeno mas muito bonito, na tipica arquitetura indiana, com alguns milenios de vida, talvez. Tambem tive a oportunidade de ver a vila melhor, ja que antes estava noite e nao pude ver direito. Eles nao sao tao pobres assim ali, ja que, por causa do templo, ha um relativo fluxo de turistas que vao pra la e o povo ganha um dinheirinho vendendo bujigangas. Mas o turismo la eh de indianos, nao de estrangeiros, entao devo dizer que eu era um ET na vila. Eu e minha amiga.

Fico por aqui, sem camundongos e indianos me enganando. No proximo relato contarei um pouco mais sobre a vila e a regiao do entorno.

12 comentários:

  1. Oi Sandrinha tudo bem? Para o Ibira, é muito legal ler seu depoimento, ri muito, mas achei o máximo o que você fez, viver como eles. O Gandhi dizia que para entendermos melhor um povo devemos viver como eles. Ir a Índia e não passar por tudo isso não é conhecê-la de verdade. Essa experiencia lhe trará grandes e bons frutos. Muito dez, adorei. Beijos no coração OM Shanti

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  2. Ibira,

    Seus relatos são deliciosos de ler... você escreve de forma clara e nos mostra com seu bom humor e tranquilidade que a India é o que é, uma cultura milenar preservada!
    Adorei saber que apesar do camundongo você tem dormido.. ele não tem lhe importunado? :D

    Sandra,
    Gostaria de saber se os indianos já estão dando sinais de contaminação com a "febre americana" por cirurgias plásticas, implantes de silicone e aplicações de botox???
    Aqui no Brasil isso já virou mania.. infelizmente o corpo virou peça de açougue!!!

    Beijos baianos da Tita

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  3. Hahahaha sucesso!!! Que demais! Eu tinha certeza que vc ia se adaptar fácil a tudo! A única coisa ruim é ter q se limpar com a mao esquerda. Haja coordenação! Qto ao banho, deve ser sensacional tb. A gte gast tanta agua no Brasil! :( é mto triste. MAs que beleza! To vendo q vc vai voltar uns quilos mais gordos :P heheheh

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  4. chavalin,

    quer dizer q vc nunca na vida tinha tomado "banho de cuia"?
    eu devo ser muito interiorana mesmo, pq jah tomei banho assim varias vezes, vaaarias, na casa da minha avoh, na minha casa, ateh na España...rs
    e viva o banho de cuia!!!
    besitos, cuidate!!!

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  5. ESTOU ADORANDO ESSAS POSTAGENS..... PARABÉNS IBIRA.

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  6. Adoro esses relatos, são ótimos!!! Beijos.

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  7. Olá, San. Olá, Ibira.
    Tinha um tempinho que eu não passava por aqui.
    Tive uma surpresa agradável ao ler o relato do Ibira. Muito legal mesmo. Uma leitura prazerosa... É bom voltar aqui e ver que o blog só melhora com o tempo...
    Saudade de vc, San.
    Beijos carinhosos.

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  8. Oi!!!
    Cada vez que eu leio o texto do Ibira mais eu gosto...
    Todos que passam aqui e lêem, com certeza, devem estar aprendendo bastante, assim como eu...
    Muito legal o Ibira dividir isso com outras pessoas pois, é sempre bom aprendermos sobre alguma cultura diferente... assim, vemos que existem inúmeras maneiras de fazermos as mesmas coisas e nem por isso deixa-se de ser feliz.

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  9. Sandra, eu adoro seu modo de escrever, mas confesso que também estou devorando os relatos do Ibira. Muito bom... fecho os olhos e consigo ver tudo que vcs falam... só falta tocar, rsss.
    Beijo grande e até mais.

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  10. Bom dia Sandra.
    Ibira... Estou adorando seu depoimento! Olha, comer com a mão (se bem que teria que me policiar bastante já que sou canhota... Imagine?!! Risos); fazer necessidades em um buraco; tomar banho de balde (nisso eu tenho prática, moro em Araruama e às vezes falta água aqui); dormir no chão; comer comida apimentada (adoro, apesar da minha gastrite)... Isso vá lá.
    Mas os ratinhos...? Eu teria que me segurar muuuuuito para meu coração saltar pela boca! Se ainda fosse lagartixa, perereca, besouros... Não que seja medo... Mas eles me dão um nervoso! Uma pergunta: E barata? Tem muita? Daquelas voadoras? (tenho verdadeiro pânico!)
    Beijos a todos!

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  11. Oi Sandra! Primeiramente quero te perguntar sobre esta música que toca quando abrimos o site, gostei tanto que gostaria de saber qual o nome e quem canta. Sobre os relatos do Ibira, fico ansiosa sempre esperando o próximo, é muito bom realmente ler os seus relatos, dá vontade de estar lá vivendo essa experiência. Parabéns Ibira e não nos deixa esperando muito, conta tudo. Bj. Márcia

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  12. Caro Ibirá..

    Saiba que estou admirando demais os seus relatos, creio que vamos ter uma nova revelação como escritor no blog, pode até pensar em escrevr livros, bem melhor que o Paulo Coelho.

    já lí muitos relatos aqui, alguns muito bons, mas não tão detalhados e de coração aberto como o seu.Isento de preconceitos.

    Vc está vivedno a India de uma forma despreconceituosa, sem um tendenciamento religioso, mas ao mesmo tempo sem ranço, ou neuroses como alguns que já lí.

    Nas suas experiencias, não há uma tentativa de culpar a India por tudo aquilo que é estranho como alguém e que não consegue assimilar, experimentar, digerir, e procurar o externo e a diferença cultural para culpar.

    Com isto vc enriquece seus comentarios, vivendo uma experiencia intensamente, e nos conduzindo a vivenciar em parte suas vivencias.

    Como já foi colocado, banho de cuia, não é coisa do outro mundo, já tomei muito na minha infancia, viví algum tempo no sertão do Ceará, e Paraiba, e que tem em alguns pontos muita similaridade com a India, a começar pelo clima e a ingenuidade das pessoas que vivem no campo.

    Não fiz ainda a experiencia de limpar com a mão esquerda e lavar depois, mas já usei a folha de mato muitas vezes quando criança no meio do sertão.

    Como já disseram com muita sabedoria, quando se quer conhecer um povo, deve-se realmente viver como tal,assim como Gandhi recomendava e vivia, vestindo as sandalias do próximo, fosse ele cristão, hindu, ou muçulmano.

    Bom, tambem vc nos colocar esta visão de uma vida em uma aldeia, o que diferencia totalmente do povo indiano dos grandes centros, assim como no Brasil.

    Seus relatos trazem para fóra um pouco da pessoa interna que vc é.

    Um grande abraço, e continue suas aventuras com as benção dos Grandes
    Avatares da India.

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